Na noite de desta Segunda-feira (27), a redação do Jornal da Primeira Hora de Eldorado do Sul cujo Editor e Diretor, coincidentemente também é samborjense, recebeu este material jornalístico de uma também conterrânea querida amiga a quem me atrevo a divulgar seu nome a Professora Bicca, então resolvemos fazer conhecida esta ação solidária que envolve nossos irmãos fronteiriços, este grupo de alunos decidiram em produzir este excelente material. Nossos parabéns e nosso carinho a todos os envolvidos nestas ações .
Almoço solidário une a comunidade samborjense e cria rede de solidariedade em prol dos mais necessitados
Projeto,
que começou servindo quatro refeições, hoje serve em média mais
de 100 refeições gratuitas por dia e beneficia universitários que
ficaram sem restaurante, moradores de rua e famílias em estado de
vulnerabilidade social.
A
maioria dos estudantes universitários de São Borja não são
nativos da cidade e vivem com uma média menor que um salário mínimo
mensal, proveniente de bolsas de estudos e auxílios disponibilizados
pelo Governo Federal. Grande parte desse valor é destinado ao
aluguel de moradia, transporte e necessidades básicas. Nele não
entram os gastos com alimentação, que é disponibilizada pelo
Restaurantes Universitário (RU) ou pelo Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS), por um preço simbólico para uma parcela
dos alunos e gratuitamente para aqueles que vivem em vulnerabilidade
social, que são a maioria. Mas, no dia 17 de março, o restaurante
universitário da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e do CRAS,
foram fechados por determinação de autoridades municipais que
seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS),
de “suspender todas as atividades acadêmicas e administrativas
presenciais, buscando evitar aglomerações” em meio à pandemia do
Covid-19.
Para
os alunos que dependiam do restaurante como única fonte de
alimentação e não tinham como retornar para suas casas, devido à
necessidade de manter a bolsa e cuidados de prevenção, foi uma
notícia preocupante.
No
dia 18 de março, sensibilizado pela gravidade da situação, o
empresário Frederico de Oliveira, mais conhecido como Fred Janot,
dono da hamburgueria Bela Burguer, distribuiu refeições para alguns
alunos. Ao ver que havia mais estudantes passando necessidade, surgiu
a ideia de fazer um almoço solidário, que envolvesse a comunidade e
amigos próximos que poderiam ajudar. O ponto de distribuição
acabou sendo a própria hamburgueria, por ter a estrutura necessária
para o preparo das refeições e se encontrar em localização
estratégica, no centro, onde mora a maioria dos alunos.
Desde
então, a rotina de Frederico mudou. “Eu
acordo todos os dias às 7h da manhã. Começamos a preparar as
refeições às 9h e vamos até as 14h servindo. À tarde, recolho
algumas doações e à noite trabalho na hamburgueria até as 23h.
Vou dormir de madrugada, perto da 1h, quando a hamburgueria já
fechou e está tudo em ordem. No dia seguinte, repito tudo. Estou
exausto, mas o que motiva é ver a rede de solidariedade que a gente
formou através do projeto, as amizades que fizemos ao longo do tempo
e ver que existe gente de bom coração na cidade, disposta a ajudar
o próximo sem pedir nada em troca”,
explica.
No
primeiro dia foram servidas 30 refeições. Após a divulgação nas
redes sociais surgiram muitas pessoas dispostas a ajudar com doações
e com isto aumentou o número de almoços servidos. No final da
primeira semana, o projeto já estava consolidado e servia em média
80 refeições.
Com
maior visibilidade, as doações aumentaram e se tornaram contínuas,
o que viabilizou que a ação solidária continuasse e expandisse seu
público alvo para além dos universitários, servindo também
moradores de rua, que se viram afetados pelo fechamento do
restaurante popular durante o pico da quarentena.
“A situação ficou difícil para eles naquele momento. O morador
de rua não tinha como trabalhar, pedir ou onde comer”,
frisou Frederico.
Na
segunda semana, foram servidos almoços também para famílias em
situação de vulnerabilidade social nas vilas da cidade e para
funcionários públicos que estão trabalhando para amenizar os
efeitos da pandemia, como enfermeiros e policiais. Até o momento
foram servidas mais de três mil refeições gratuitamente.
Monique
Guimarães, estudante de Publicidade e Propaganda, disse que no
primeiro dia após o fechamento do RU ainda tinha como se alimentar,
mas que não sabia o que fazer no dia seguinte. Segundo ela, a ação
de Frederico é um belo exemplo e veio em boa hora. “Foi
interessante ver como a ação de uma pessoa acabou criando uma rede
de solidariedade, com várias pessoas unidas numa causa só”, conta
a estudante.
Rede
de Solidariedade
A
comunidade realmente abraçou o projeto e as doações não pararam
de chegar. Além da participação popular, empresários também se
dispuseram a colaborar, alguns preferindo permanecer no
anonimato.
Emiram da Cunha, comerciante de hortifruti, é um dos doares mais comprometidos com a causa. Só neste mês ele doou mais de 200 kg de frutas e verduras.
Emiram da Cunha, comerciante de hortifruti, é um dos doares mais comprometidos com a causa. Só neste mês ele doou mais de 200 kg de frutas e verduras.
O comerciante conta que sempre realizou diversas doações ao longo dos 20 anos de trabalho com este comércio. Porém, viu um diferencial nesta ação que propõe ajudar muitas pessoas necessitadas. "Eu me vi na obrigação de colaborar. Pois, sei que longe de casa tudo é mais difícil. Frederico teve uma atitude nobre que não é comum de se ver", disse Emiram.
Ele relata que já foi ajudado muitas vezes por outras pessoas e isto é um dos motivos de querer retribuir de alguma forma. "Seria muito importante se cada um olhasse para o lado e visse que há pessoas que realmente precisam, que passam fome e dificuldades", frisou o comerciante.
Além
de doações, algumas pessoas se dispuseram a ajudar de outras
formas, seja na cozinha, preparando os almoços ou entregando-os. A
professora Silvana Bulling Mendes é uma delas. Durante a quarentena,
vem dando aulas à distância e, em seu tempo livre cozinha, ajuda no
preparo das refeições e entrega marmitas para famílias carentes da
vila Leonel Brizola. Para ela tem sido muito gratificante. “Em um
momento tão difícil assim é bom saber que estou ajudando de alguma
forma”, afirma Silvana, que se faz presente de segunda a sábado na
cozinha do Bela Burguer.
Com
a grande demanda de serviço, somente os amigos de Frederico não
estavam dando conta de manter o projeto. Vendo isto, no primeiro dia
em que foi buscar a refeição, a estudante de Gestão Ambiental
Beatriz Gomez ofereceu-se para trabalhar de forma voluntária nos
dias necessários. A partir disso, surgiu a ideia de criar um grupo
de estudantes voluntários que se revezam para colaborar com o
preparo das refeições.
"O
Fred está nos ajudando, então isto é um estímulo para sermos
voluntários. Eu não tinha condições de voltar para minha cidade,
Rio de Janeiro, por isso quando fechou o CRAS, que era o lugar onde
nós nos alimentávamos, fiquei preocupada. Estas doações com
certeza estão fazendo a diferença. Por isso é gratificante
trabalhar como voluntária", disse.
Já
a blogueira de maquiagem Raquel Saldanha conheceu o projeto através
do Instagram e num primeiro momento o divulgou em seu perfil, que
conta com mais de 20 mil seguidores. Mas queria fazer algo mais para
ajudar. Foi então que surgiu a ideia de criar um curso de
automaquiagem online e doar todo o valor arrecadado para a causa. A
ideia foi um sucesso e ultrapassou a meta estipulada, que era fechar
uma turma com dez alunas ao valor de R$ 29,90 por cada inscrição.
Com 34 alunas matriculadas e a doações extras, Raquel conseguiu
arrecadar R$ 960,00, que foram convertidos em alimentos e doados ao
Bela Burguer. “Foi muito especial para mim e as meninas que
participaram do curso ajudar o projeto”, diz Raquel, que tem a
intenção de criar uma segunda turma para continuar ajudando o
almoço solidário.
O
casal Anderson Lencini Bagiotto e Tiana Bagiotto também se
solidarizaram com a causa e resolveram colaborar. Amigos próximos de
Fred estão com ele desde o primeiro dia. Anderson, que é policial
militar, muitas vezes sai do serviço às 6h da manhã e às 10h já
está no Bela, ajudando como pode. “Não faço isso por mim, mas
sim por saber que o que a gente faz de coração uma hora volta. Esse
tipo de ação cria uma corrente solidária que não acaba aqui”,
afirma Anderson. Tatiana, que é advogada, tem ajudado na parte
jurídica e na entrega dos alimentos. Com experiência na área
social, ela tem feito um trabalho de mapeamento e filtragem das
famílias em estado de necessidade, para as quais são destinadas as
refeições. “Estamos aqui desde o primeiro dia e estaremos até o
último”, ressalta Tatiana.
Live
solidária teve mais de 20 mil visualizações
No
dia 21 de abril, foi realizada uma live solidária (transmissão ao
vivo) nas plataformas digitais com o intuito de conscientizar a
população da importância da arrecadação de alimentos. Foram
feitas apresentações culturais com músicos da região que se
propuseram de forma voluntária a participar dessa ação. Entre as
atrações estavam presentes a banda Segundas Intenções; os
cantores Filipe Kirinus, Murilo Mendes, Mateus do Prado e Djs Allan e
Odierly.
Foram
mais de 20 mil visualizações e mais de 3 caixas de alimentos
doados. As arrecadações tiveram o apoio da empresa de transporte
Garupa, que disponibilizou motoristas da cidade para buscar os
alimentos durante a live.
Futuro
do projeto
Frederico pretende manter o almoço solidário por no
mínimo mais três meses. Segundo ele, a partir do momento em que não
for mais viável mantê-lo, a ideia é disponibilizar cestas básicas
ou reunir famílias que se disponham a “adotar” um aluno. Por
isso, ele ressalta a importância de criar um estoque de alimentos,
como estratégia para continuar o projeto nos próximos meses, que
serão os mais frios do ano, ocasionando numa maior possibilidade de
propagação do vírus e consequentemente uma quarentena mais rígida.
Quer
ajudar?
Se
você também está disposto e pode ajudar, basta levar sua doação
até o Bela Burguer ou entrar em contato pelas redes sociais da
hamburgueria, que Frederico e sua equipe irão até sua casa buscar
os alimentos. Se quiser doar uma quantidade em dinheiro, basta fazer
o depósito na conta: AG 380 C 06.079901.0-2. Banco Banrisul.
Qualquer valor é bem-vindo.
Além
disso, estão espalhadas pelos mercados e farmácias da cidade caixas
solidárias, onde você pode deixar sua doação, que então será
repassada diretamente para a cozinha do Bela Burguer. Eis alguns dos
locais onde você encontrará as caixas: Farmácias São João (Av.
Presidente Vargas, Candido Falcão, General Marques e próxima ao
Mercado Nacional), Farmácia Panvel, Mercados Chesini (Betim e
Passo), Mercados Super24 (Centro e Passo), Mercado e Padaria Santa
Rita, Comercial Surubi, Mercado do Porto, Mercado Santiago e Açougue
Don Vitorio.
O
projeto conta com doadores permanentes de arroz, feijão e cebola,
doados por pequenos cerealistas da cidade. Portanto, as doações
mais necessárias no momento são de carnes de qualquer tipo, azeite,
sal, massas, enlatados, extrato de tomate, temperos e marmitex. Ainda
assim, toda doação é bem-vinda e fará diferença.
Fonte / e Créditos / Grupo de Alunos de Jornalismo de São Borja